Psicólogos clínicos têm observado a forte presença de
figuras femininas em sonhos, manifestações da anima em pacientes do sexo
masculino, aparições de arquétipos como da Grande Mãe e de outras figuras
mitológicas femininas na psique das pessoas. Recentemente, tem havido fortes
manifestações espirituais de santas e de deidades femininas nas mais diversas
religiões, além disso, o movimento conhecido como espiritualidade feminina tem
crescido. Nas artes, o feminino também tem aparecido de formas mais
diversificadas: em poesias, na música, em pinturas, no cinema e no teatro. A
mulher e o feminino são temas que tem sido explorados na Filosofia, na
Psicologia e nos mais diversos campos científicos.
Esse fenômeno foi denominado por Edward C. Withmont como “O
retorno da Deusa”.
Figura Gestalt da Mãe Natureza
Arquétipos fazem emergir de nosso psiquismo conteúdos
emocionais muito profundos, auxiliando a trazer respostas. Existe grande
dificuldade para o Ego moderno lidar com um conceito tão além do abstrato,
chega a soar pagão e místico pra algumas pessoas. Independente das diversas crenças espirituais existentes, as conclusões de Jung acerca do tema foram baseadas em atendimentos clínicos, literatura sobre diversos assuntos, em suas viagens por diversas partes do mundo, nas quais teve a possibilidade de entrar em contato com diversas culturas, estudando seus psiquismos.
Para a Psicologia Analítica a psique objetiva a
individuação, processo cunhado por Jung que significa a jornada da alma em
busca da auto-realização e do desenvolvimento do potencial de todo ser. A
psique, ao identificar determinado desequilíbrio irá ativar mecanismos para que
chegue de forma mais clara possível a informação desse desajuste, de modo a
chamar a atenção da pessoa para que providências sejam tomadas. Dentre os
inúmeros mecanismos utilizados, a presença de determinadas figuras carregadas
de forte carga emocional irá surgir em sonhos e mesmo no cotidiano do
individuo. Tais figuras são os arquétipos, são padrões de comportamento.
Abaixo, um exemplo de uma situação de um desequilíbrio
identificado pela psique:
Uma mulher de personalidade emotiva, submissa e dependente
chega a um momento de sua vida em que precisa tomar certas decisões
importantes. Além disso, depara-se frequentemente com dilemas que exijam frieza
intelectual e ao tentar solucioná-los não se sai muito bem. Muito provavelmente
seu psiquismo irá trabalhar para que a mulher tenha contato com figuras
femininas fortes como a deusa Ártemis, a protetora da natureza e amazona grega.
Talvez essa mulher comece a sonhar frequentemente com mulheres tomadoras de
decisões ou com figuras intelectuais femininas, ou mesmo outras situações
não-arquetípicas irão aparecer em seus sonhos.
A manifestação de todo e qualquer arquétipo é determinada
por fatores culturais e históricos. O Retorno da Deusa é um fenômeno que só
teve início graças a diversos acontecimentos históricos, como a intensificação
no século XIX do estudo de culturas, mitos e crenças de diversos povos tribais
pelo mundo, a descoberta do inconsciente por Freud e o Movimento Feminista no
início do século XX.
Diante do niilismo, do sadismo e da forma cindida como temos
nos relacionado com o mundo, com as pessoas e com nós mesmos, o Ego Patriarcal
não mais dá conta, na psique das pessoas, da contenção da violência, da
agressividade e do desejo. Os sonhos das pessoas são ricos em imagens de deusas
e de seus consortes, vêm pedindo uma integração dos aspectos femininos e
masculinos.
Vivenciando o retorno da Deusa
Arquétipos de figuras pré-históricas femininas foram
preservados no inconsciente coletivo e na imaginação de nossos antepassados como
em contos de fadas, mitos, lendas e tradições. Essas memórias, que vem
ressurgindo, clamam pela conscientização e pela vivência da sacralidade
feminina.
Apenas esclarecendo um conceito, o termo "Deusa" nesse texto deve ser entendido como sinônimo de sacralidade feminina.
Apenas esclarecendo um conceito, o termo "Deusa" nesse texto deve ser entendido como sinônimo de sacralidade feminina.
Para que você possa entrar em contato com a Deusa, você pode
explorar aspectos como sua criatividade, contato com a Terra e com a natureza,
o cuidar de outra pessoa ou de algo, seja uma horta, de sua casa ou de seu pet.
Entre em contato com obras artísticas que explorem o feminino e procure
observar o que o “ser mulher” representa em sua vida.
Se você desejar um contato mais espiritual, você pode montar um pequeno altar em sua honra com símbolos sagrados a ela como a concha do mar, espirais, luas de prata, pedras furadas, um cálice, etc.
Se você desejar um contato mais espiritual, você pode montar um pequeno altar em sua honra com símbolos sagrados a ela como a concha do mar, espirais, luas de prata, pedras furadas, um cálice, etc.
Podemos dividir os arquétipos da Deusa em quatro principais. Cada um representa as quatro principais fases da vida da mulher. A virgem representa o início da menarca (a primeira menstruação), a mãe representa a maternidade e o contato com o leite materno, a anciã representa a menopausa (encerramento da fase reprodutiva) e a encantadora permeia a todas as fases, representa a agressividade, a sexualidade e a sensualidade da mulher.
A Virgem - Os
arquétipos que se manifestam nesse grupo são os das deusas virginais como
Ártemis, Athena, Bast, Perséfone e Ostara. Nessa divisão, o conceito de
virgindade não tem relação com a iniciação sexual, ser virgem significa aquela
que não é casada. Nessa manifestação da
Deusa, ela aparece como jovens ou crianças que trazem a luz ou um novo começo.
Personificam a jovialidade e energia, a independência e o despertar do
potencial da vida.
A Mãe – As deusas são Deméter, Inanna, Ísis, Nu Kwa, Pachamama, Tiamat,
Maria e Cerridwen. As deusas mãe carregam uma forte carga de abundância,
nutrição, acolhimento, cuidar, fertilidade, criatividade e família.
A Anciã – A anciã aparece como nossa avó ou como uma velha:
Sheila Na Gig, as Erínias, Hécate e Baba Yaga. Esse arquétipo representa
transmutações, mudanças, aceitação das leis inexoráveis da natureza da vida e
da morte, sabedoria e conhecimento.
Representação da deusa celta Sheila na Gig
A Encantadora – A encantadora, ou as deusas negras e
sombrias, são Kali, Pomba-Gira, Lilith, Oxum e Freia. Representam a sombra da
mulher, tudo aquilo que é reprimido e proibido: a sensualidade, a sexualidade,
a autonomia, a agressividade. Quando esse aspecto se manifesta indica que é
preciso mergulhar no desconhecido.
De acordo com Mirella Faur, um desafio para os que desejam
entrar em contato com a Deusa é trazer à luz a verdade por trás dos mitos do
feminino. O Patriarcado alterou e distorceu o poder das deusas e redescobri-las
é algo que precisa ser feito, de modo que as limitações, proibições e tabus
sejam revistos.
Nesse processo em andamento, do Retorno da Deusa, as
mulheres serão empoderadas em seus direitos de parir, de tomar decisões sobre seus corpos e de conhecê-los, sobre suas crenças, sobre sua espiritualidade,
obre seus direitos sociais e políticos. Os homens também se beneficiarão, já
que cada vez menos haverá a necessidade de externalizar padrões rígidos de
masculinidade.
Fontes:
Círculos sagrados para mulheres contemporâneas - práticas, rituais e cerimônias para o resgate da sabedoria ancestral e a espiritualidade feminina - Mirella Faur
O Retorno da Deusa - Edward C. Withmont
O oráculo da deusa - Um novo método de adivinhação - Amy Sophia Marashinsky
Fontes:
Círculos sagrados para mulheres contemporâneas - práticas, rituais e cerimônias para o resgate da sabedoria ancestral e a espiritualidade feminina - Mirella Faur
O Retorno da Deusa - Edward C. Withmont
O oráculo da deusa - Um novo método de adivinhação - Amy Sophia Marashinsky
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