terça-feira, 7 de junho de 2016

Quem é a mulher guerreira?

Nas redes sociais e pela internet é comum ver comparações acerca do comportamento feminino, sobre o modo correto de se buscar direitos e de "ser guerreira".



Ao lermos sobre feminismo nos deparamos com dois tipos distintos: feminismo da igualdade e feminismo da diferença, o primeiro visa direitos sociais e privados iguais aos dos homens, visando ampliar o acesso às mesmas oportunidades dos homens às mulheres, o segundo foca mais no valor das peculiaridades femininas como a capacidade de gerar uma vida e de nutrir, contato inevitável com a natureza, o que se vê no ciclo menstrual, por exemplo, já que este leva  a mulher conectar-se com seu corpo periodicamente.

É importante ressaltar que ambos os movimentos são importantes, porém nas últimas décadas o feminismo das diferenças tem crescido em debates e opiniões, como algo a receber importância. Vale lembrar que o feminismo das diferenças não coloca os ciclos naturais do corpo feminino como objetivo maior, romantizando-os e afirmando que são os únicos possíveis de tornar uma mulher completa. Como afirmou Beauvoir, ser mulher é uma construção, não algo pronto e delimitado. A mulher não nasce para  completar-se  através de um filho, de uma gravidez, de uma casa limpa e organizada, já nasce completa e a  libertação de dogmas e de ideias rígidas  possibilita  construir o próprio destino.

Diante de diversas concepções acerca da feminilidade e até mesmo da figura da mulher forte, quem é ela?  Pelas diversas mitologias e religiões do mundo existem tipos de deidades femininas que podem ser divididas em quatro grupos: as donzelas, as mães, as anciãs e as “mulheres sombrias”. A mulher forte pode estar em todas elas, pois todas enfrentam batalhas e desafios que levam ao desenvolvimento.

A mulher forte pode ser não apenas aquela que ocupa múltiplas tarefas, que é mãe, esposa, profissional e que se cuida. Na verdade essa afirmação surge mais como um imperativo hoje do que é ser mulher, trazendo uma carga pesada e idealizada. Ao contrário disso, a mulher forte pode ser aquela dona de casa que cuida do lar, do marido e dos filhos; pode ser aquela avó que gosta de assistir televisão e de cozinhar, pode ser aquela mãe adolescente; pode ser a mulher que não quer ter filhos e que cuida da vida profissional. Todas essas mulheres enfrentam desafios e têm seu valor, devem ser reconhecidas pelos desafios que enfrentam rumo ao amadurecimento não só individual, mas daqueles que a cercam.

Nossa cultura ainda tende a caracterizar alguns comportamentos apresentados pelas mulheres como  repulsivos,  e estes na verdade provocam estranheza diante de uma figura rígida da feminilidade, figura esta que domina a opinião da maioria das pessoas: mostrar os seios nas manifestações, ser agressiva no trabalho, ter dois ou mais parceiros sexuais, não desejar filhos, não gostar de trabalho doméstico, etc.  A “mulher sombria” é aquela que é negada, reprimida pela cultura em que está inserida, apresentando comportamentos que não são aprovados. Essa mulher amplia o repertório da identidade e da sexualidade das mulheres, é ela que sofre acusações,  e é ela que é muitas vezes  transformada em bode expiatório de um problema coletivo com determinado tabu ou proibição.

Mulher forte é aquela que trabalha o dia todo ou que sustenta a família, mas também é aquela que grita nas ruas por mais liberdade.  Seja dizendo docemente ou gritando, a mulher hoje deseja ser ouvida, ter voz e ser legitimada. Infelizmente, durante os últimos tempos a história das mulheres ficou nas sombras da dos homens, mas os movimentos feministas têm permitido que sua  voz não tenha mais que passar pela dos homens.

Determinadas características têm sido atribuídas, no decorrer da história, às mulheres  que tem algo a dizer: passam pela doença mental, problemas emocionais, emotividade excessiva que prejudica o senso crítico, problemas hormonais que afetam o juízo, instintos como os da maternidade, que impossibilitam que  o rumo de suas histórias fossem diferentes, problemas espirituais (como pactos com demônios e entidades), tendência à maldade e ao pecado de nascença, imperfeição física comparada ao homem, etc . Todos esses argumentos foram fortemente utilizados na construção das origens epistemológicas (premissas, argumentos teóricos) da Medicina, do Direito, da religião, chegando ao senso comum, ao conhecimento geral.

Independente de apresentar comportamentos e ideias que desafiam uma cultura ou não, a mulher forte é  toda aquela que de alguma forma resiste pelo que acredita, que tem o desejo de continuar,  e resistir e persistir é algo pessoal demais para ser generalizado.

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